Nesta postagem, apresentamos
fotos e um relato da última visita do Ecoando (grupo niteroiense de caminhadas
ecológicas e educação ambiental coordenado por este blogueiro) a esse paraíso
de belezas, história e riquezas ambientais que são as Ilhas Maricás (seja
dentro ou fora d'água), ameaçadas com a construção do emissário
terrestre/submarino do Comperj. O dia desse verdadeiro privilégio foi 7 de
fevereiro passado próximo.
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Parte do pescado colhido pelos profissionais da rua 70, nas Maricás, sendo vendido na Praia do Francês, antes de nosso embarque. Fonte: autor. |
O dia amanheceu nublado, mas
aos poucos foi abrindo. O mar estava calmo e, as ilhas, como sempre
espetaculares. Levamos menos de 30 minutos até a Ilha Maricá, a principal das
cinco do arquipélago e única onde é possível fazer caminhadas. Nela, Havia
muitos pescadores e alguns outros visitantes além de nós, cada um na sua, mas
todos felizes por estarmos ali.
Desembarcamos na Praia da
Galheta, localizada na parte central da Ilha, e já seguimos caminhando rumo
sudoeste, em direção ao farol da Marinha. As pitangueiras estavam tão
carregadas que fazia gosto ver o salpicado de vermelho das frutinhas nas copas
desses arbustos que dominam o terreno insular.
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Pescadores na Praia da Galheta, com o Alto Mourão ao fundo. Fonte: autor. |
Passamos por trilhas e
locais os quais nunca tinha levado o grupo, justamente pela iminência de não
mais podermos voltar ali devido à poluição do emissário do Comperj. Assim,
visitamos o Cemitério dos Mariscos, um grotão extraordinário, a Ponta Sudoeste
e a Prainha do Saco, além dos atrativos de sempre (o farol, o despenhadeiro que
quase divide a ilha em duas e a Praia da Fenda).
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Início da caminhada. Fonte: autor. |
Tomamos muito banho de mar
onde era possível, vimos as cabras selvagens, contei as diversas histórias
ligadas ao lugar (sobre o esconderijo do corsário César Fournier ao largo do
arquipélago, durante a Guerra Cisplatina; o desembarque de Giuseppe Garibaldi
para desfraldar a bandeira da República Riograndense em plenas barbas do
Império; os diversos e interessantes naufrágios ao redor dos costões, etc.) e
conversamos sobre as ameaças desse crescimento sem limites que tomou conta de
Maricá e arredores.
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Vista de alguns dos morros que compõem o Parque Estadual da Serra da Tiririca, cuja área marinha será afetada pela pluma de efluentes do emissário do Comperj. Fonte: Autor. |
Ou seja, além do emissário,
falamos sobre o Porto de Jaconé, o megaempreendimento imobiliário planejado
para a APA de Maricá e os bota-foras de material de dragagem da Baía de
Guanabara, ali pertinho.
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Vista quase geral da Ilha Maricá. Fonte: autor. |
Desta forma, não apenas
sorvemos cada minuto da espetaculosidade do local, mas também aprofundamos
conhecimentos críticos a respeito dessas e de outras ameaças, assim como da
formação geológica do arquipélago, sua pré-história, história, geografia e outros
assuntos correlatos àquela joia de beleza, riqueza e interdisciplinaridade
(como antropologia, sociologia, biologia, etc.). Uma vivência inesquecível e
muito rica. No entanto, porque não dizer, igualmente aflitiva.
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O farol da Marinha. Fonte: autor. |
A esse respeito,
questionamos: como pode uma das sete maravilhas de Maricá (com potencial
gigantesco para o turismo, além de criatório natural de organismos marinhos,
refúgio ou ponto de passagem de baleias e peixes raros, e cuja produtividade
pesqueira é a maior do município em pesca oceânica embarcada) ser destruído por
uma obra tão irresponsável e ilegal como o emissário?
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Caminhantes no Cemitério de Mariscos. Fonte: autor. |
O emissário do Comperj,
concebido e tocado por diretores da Petrobras que hoje são indiciados por
crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, foi licenciado pelo Inea e a
Secretaria de Estado do Ambiente em 2012.
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Caminhantes na Ponte Sudoeste da Ilha Maricá, com a Ilha Anexo à vista. Fonte: autor. |
Esse duto, de mais de 40 km de extensão, despejará
toneladas diárias de venenos químicos e água contaminada do Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro a apenas dois quilômetros das ilhas, o que
comprometerá a qualidade do pescado, exterminará o coletivo de pescadores
artesanais da Rua 70 (ocasionando assim um problema social), e trará prejuízos
que são assumidos pelo próprio empreendedor como "não totalmente
conhecidos" (segundo EIA/RIMA do emissário).
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As cabras selvagens da Maricá. Fonte: autor. |
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Grotão. Fonte: autor. |
Ainda temos esperança que,
com o andamento das investigações e indiciamentos da Operação Lava Jato, assim
como o andamento da Ação Civil Pública contra o licenciamento do emissário, no
Ministério Público Estadual, essa obra seja embargada para sempre e o empreendedor venha a ser obrigado a adotar o descarte zero. Como deve ser.
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Jardins naturais e variados de plantas nativas, como bromélias, na vertente oceânica da Ilha. Fonte: autor. |
Enquanto isso não acontece,
preferimos nos precaver e guardar bem na memória e em fotos a integridade do que será
supostamente destruído pela estupidez e a má fé de governantes, políticos e
empreendedores, com o aval de técnicos e servidores do Estado (leia-se Instituto
Estadual do Ambiente - Inea - e Secretaria de Estado do Ambiente - SEA), a
partir do final de 2016 (época da inauguração do Comperj, caso a mesma não seja
mais uma vez adiada).
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Banho de mar na Prainha da Fenda, no extremo nordeste da Ilha Maricá. Fonte: autor. |
Pedimos desculpas pelo
desabafo e a forma apaixonada de tratar este assunto, mas não dá para se ter outro
sentimento que não o de revolta em saber que o paraíso que são as Ilhas Maricás
será destruído, ainda que só a sua parte marinha.
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Prainha da Fenda vista de outro ângulo. Um ecoandista (adepto do Ecoando), viajante internacional, comparou este lugar ao Mar Egeu. Dá para aceitar que o mesmo venha a ser poluído? Fonte: autor. |
Afinal, ilha sem mar não
existe.
Que as Ilhas Maricás
continuem existindo, então!
Cássio Garcez
Blogueiro e coordenador do
Ecoando
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Prainha do Saco, outro paraíso dentro do paraíso da Ilha Maricá. Fonte: autor. |
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Vista da enseada de pedras que formam a Prainha do Saco. Ao fundo, a APA de Maricá e serras que dividem o município de Itaboraí, de onde virão todas as porcarias do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Fonte: autor. |
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Perspectiva da Prainha do Saco vista de quem vem do mar. Nada a dever às paisagens mais belas do nordeste do Brasil. E isso em plena Maricá! Esse lugar tem que ser protegido: Fora duto! Fonte: autor. |
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Prainha da Fenda vista das Ilhas Crioulas, localizadas a nordeste da Ilha Maricá. Fonte: autor. |
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Ilha Anexo (nome dado pelos pescadores), a sudoeste da Ilha Maricá. Esta fenda divide a ilha em duas. Neste local, foram pescados tubarões mako e tigre, além de um marlim azul, não faz muito tempo. Também costumam passar por ali baleias orca, jubarte, piloto e talvez outras. O que será delas com o emissário? Fonte: autor. |
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Que as nuvens negras da ganância e da estupidez de empresários, governantes e políticos que deram esse presente de grego para Maricá (o emissário do Comperj, entre outros), sejam dissolvidas pelos ventos da mobilização popular, das ações civis públicas e da verdadeira justiça. Esse é o nosso desejo. Fonte: autor. |
P.s.: clique nas fotos para abrir a galeria, com quadros em tamanho e definição melhores.